Cheguei ao parque do Ibirapuera e
um frio de cortar os ossos. Bastava passar um frio dos diabos em Campos do
Jordão, e agora aqui essa cerração, essa garoa cortando as costelas. Perto de
uma escultura gigante de aranha estava uma aglomeração de gente estranha.
Adolescentes vestidos com roupas escuras, coloridas, uns vestiam como
personagens de anime. Tinha umas pequenas moças com orelhas de bicho e, se não
bastasse, os pequenos se beijavam, homem com homem, mulher com mulher. De vez
em quando aparecia um casal feioso e hétero, só para variar. Variar na escolha
do parceiro, porque ali todo mundo era feio. Se tivesse alguma beleza, deveria
ser interior, mas essa sutileza eu não tive tempo de analisar. Aquele povo
andava a pé, de skate, de um tal de long, de patins. Tudo misturado naquele
espaço. Lá fora, chovia. Chuva fina e fria. Eu com frio, friaca de Sampa, meu!
Lembrei que ficava reclamando de frio de Campos do Jordão para o japa e, aqui na terra dele, mal sabia
que a temperatura estava no mesmo pé. Meu coração ficou gelado, o japa não quis
me ver. Quer dizer, estava gelado, porque esse negócio de eu gostar de alguém
que não gosta de mim é balela, história para boi dormir. Tenho um amigo que
falou que o meu texto está cheio de clichês. Quer coisa mais clichê que essa
historia mais ou menos que quem eu quero não me quer? O japa não quis me ver, o
japa não quis me ver... Isso ficava batendo na minha cabeça feito enxaqueca.
Peguei um long emprestado e comecei a deslizar, o vento soprando na cara, a
velocidade, aquilo foi diluindo os meus pensamentos densos, fui me tornando tão
leve quanto mereço. Esquentei o meu corpo, fiquei feliz no meio daquela gente
toda. Paramos em uma adega, bebemos vinho e celebramos a vida, as diferenças,
as igualdades e rimos muito. Porque no final de tudo, a vida estando boa ou
ruim, o negócio é rir bastante. Dormi
enrolada em uma gata persa. Acordei sem ressaca, sem mágoas, límpida como a
alma de um recém-nascido. O japa não quis me ver. Bobo dele – pensei. Me prendi
em uma ideia falsa. Na verdade, sou livre. Não preciso de resumir a raio de
japa nenhum, nem ser submissa a ninguém. Volto para Campos do Jordão vazia,
livre. Vou me emendar em quem realmente me quer e deixa esse japa pra lá! Não
tenho mais o japa – nunca tive -, mas tenho a minha carta de alforria: posso
pensar o que quiser, escrever sobre o que bem entender e ser eu mesma, sempre!
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