Gostaria de permanecer no
silêncio, pois as minhas palavras me denunciam. No entanto, se me calo, sinto
que morro. A cidade se entope de névoa cinza, como se estivesse mergulhada no
umbral. Lembro-me de um dizer de Oscar Wilde que fala que quem criou a neblina
de Londres foram os poetas. Na tela, a escritora Jane Austen não se casa nem
por amor, nem por falta dele. Prefere a liberdade das palavras, se prender às
possibilidades de uma vida feliz, que a realidade nua e crua de um casamento
sem sentido. Rio porque sou livre e, de certa forma, me sinto como Jane.
No entanto, sou privilegiada de viver neste tempo, em que as mulheres já não
são mais obrigadas a viver sob o abrigo da moralidade exacerbada, da rigidez. Nós vivemos na era do ouro, pois podemos experimentar os dois lados da moeda,
sem muitos prejuízos. É claro que isso nos acarreta mais insegurança, como se pisássemos
em terra solta, escorregadia. Às vezes temos que calar a boca da paixão e
deixá-la num canto qualquer. O caso é que a minha uiva e, mesmo com todas as
apunhaladas que defiro nela, está difícil sufocá-la. O jeito é ficar bem
quietinha, fingir que ela não existe. Quem sabe ela vai embora e me deixa em
paz.
Quem sou eu
- Raquel de Souza
- Sou escritora e uso do artifício de escrever para depurar pensamentos e sonhos. Sou uma leitora apaixonada, curto assistir a filmes e séries e ir ao teatro. Tenho dois livros publicados: "A ilha e a menina" e "Livremente Mara".
segunda-feira, 9 de março de 2015
segunda-feira, 2 de março de 2015
Últimos instantes em Sodoma e Gomorra
Aquela água caindo pelas minhas
costas, como se eu própria fizesse parte daquela cascata branca, meu corpo seminu
sendo envolvido pelo véu suave e fresco tecido pelo bem mais precioso da Terra,
me fez descer do céu dos devaneios e ter um pouso seguro no solo da
racionalidade, das escolhas. Livrar-me de me soltar ao vento e simplesmente
decidir: não! Não é por aí que quero ir! Quero chegar mais longe, certos
caminhos e distrações só vão atrasar a minha jornada. É claro que ainda lembro
dos seus cabelos tocando a minha pele, do seu sorriso aberto, e daquela vontade
incrível de ficar mais um pouco. Mas é preciso olhar para o chão e dizer: não!
Até porque você está no mundo das ideias, não é real, também é parte de um
sonho. O que em ti que é matéria não corresponde com o que sinto. É melhor ir
embora, antes de me ajoelhar implorando a qualquer preço um carinho distraído,
isso não é razoável com o que mereço. Encaro-me no espelho e digo: não! Prefiro
levar você para a minha alcova de lembranças boas, daquelas especiais. Não é
melhor assim? É preferível dizer adeus antes do encontro, não tenho tempo para
comprovar as minhas teses, tenho sentimento demais para me jogar em um
experimento que, à primeira vista, já parece mal logrado. Estou novamente
pisando em solo compacto, no mundo das coisas palpáveis. Difícil à beça dizer
não! Mas por amor a mim e pelo que luto, abandono Sodoma e Gomorra sem olhar
para trás.
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