Gostaria de permanecer no
silêncio, pois as minhas palavras me denunciam. No entanto, se me calo, sinto
que morro. A cidade se entope de névoa cinza, como se estivesse mergulhada no
umbral. Lembro-me de um dizer de Oscar Wilde que fala que quem criou a neblina
de Londres foram os poetas. Na tela, a escritora Jane Austen não se casa nem
por amor, nem por falta dele. Prefere a liberdade das palavras, se prender às
possibilidades de uma vida feliz, que a realidade nua e crua de um casamento
sem sentido. Rio porque sou livre e, de certa forma, me sinto como Jane.
No entanto, sou privilegiada de viver neste tempo, em que as mulheres já não
são mais obrigadas a viver sob o abrigo da moralidade exacerbada, da rigidez. Nós vivemos na era do ouro, pois podemos experimentar os dois lados da moeda,
sem muitos prejuízos. É claro que isso nos acarreta mais insegurança, como se pisássemos
em terra solta, escorregadia. Às vezes temos que calar a boca da paixão e
deixá-la num canto qualquer. O caso é que a minha uiva e, mesmo com todas as
apunhaladas que defiro nela, está difícil sufocá-la. O jeito é ficar bem
quietinha, fingir que ela não existe. Quem sabe ela vai embora e me deixa em
paz.
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