Quem sou eu

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Sou escritora e uso do artifício de escrever para depurar pensamentos e sonhos. Sou uma leitora apaixonada, curto assistir a filmes e séries e ir ao teatro. Tenho dois livros publicados: "A ilha e a menina" e "Livremente Mara".

terça-feira, 12 de maio de 2020

Troquei o meu vinhozinho por suco de uva

Troquei o meu vinhozinho por suco de uva. Me veio uma sede de lucidez e calmaria, uma vontade só de sentir as ondulações sentimentais sem interferência alcoólica. É que ficar confinada pode empanturrar a gente de tédio, de uma maneira tão abrupta que talvez gritar resolveria, ou pular da janela do sétimo andar, como se fosse uma gata buscando a liberdade no ar vazio. Acabei encontrando alguma paz fazendo corrida pelos cômodos da casa e ouvindo música antiga. Tem gente que se acalma com meditação, eu entro dentro de mim pulando corda com um cabo de internet que encontrei aqui dentro de uma caixa. Acabei de ver o meu celular e parece que o nosso país bateu o recorde de mortes por covid-19 novamente. Fecho os olhos e tento não me contaminar com essa profusão de más notícias. Desvio meu pensamento e agradeço a Deus por mais esse dia, por aqui está tudo bem, um dia de cada vez. Vou assim vivendo, um dia por vez, cheia de gratidão pelo presente. Do futuro, não sei, nunca soube. Eu gostaria de esquecer que o "lá fora" existe e que meu amor, todo o dia quando chega em casa depois do trabalho, pode trazer o corona junto. Não queria me lembrar, mas não lembrar é como não viver e quero sentir cada segundo dessa minha vida, pulsando, louca para desbravar o mundo, mesmo que esse mundo agora se resuma nos limites de meu apartamento. Há muita vida aqui, muita energia, muita arte, muita força. E vou tentando viver o mais saudável possível no meio de tanto luto.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Desprezo para esquecer do Covid

O desprezo alheio não é algo que posso controlar. Hoje senti nas minhas entranhas esse gosto amargo de quando pessoas não te querem na vida deles. Mas pensei um pouco e decidi que esse não é um sentimento meu. São das pessoas. Dessa forma, não tenho que carregar essa tristeza comigo. Resolvi que vou perdoar e respeitar por inteiro a decisão de se afastar de mim. Fiz uma oração e desejei tudo de bom para esses que ainda são muito queridos por mim. Mas resolvi seguir a minha viagem sem rancores, a vida já está por demais assustadora para me delongar com firulas. Aproveito e faço desses pequenos conflitos o meu provimento para voltar a escrever, tornar eventos incômodos em situações para ruminar em forma de palavras o que sinto. É bom concentrar nas minhas vísceras, neste tempo que se sai à ruas e todos estão mascarados, encostar em alguém pode ser um perigo mortal. Na televisão, passa diariamente o número de mortos, sempre aumentando aos milhares ao redor do mundo e aqui. Eu encerro na minha casa, com uma saudade insaciável de ter gente por perto, mas daquela saudade de se encontrar pessoas e jamais vincular esse fato com doença ou morte. Que falta me faz sair de casa, viajar ou até mesmo sonhar com isto! Assim, voltar-me para mim, para esses pequenos embarrancos me faz como que esquecer dessa maluquice em que vivemos nesta pandemia do Covid-19.

Abraços!