Troquei o meu vinhozinho por suco de uva. Me veio uma sede de lucidez e calmaria, uma vontade só de sentir as ondulações sentimentais sem interferência alcoólica. É que ficar confinada pode empanturrar a gente de tédio, de uma maneira tão abrupta que talvez gritar resolveria, ou pular da janela do sétimo andar, como se fosse uma gata buscando a liberdade no ar vazio. Acabei encontrando alguma paz fazendo corrida pelos cômodos da casa e ouvindo música antiga. Tem gente que se acalma com meditação, eu entro dentro de mim pulando corda com um cabo de internet que encontrei aqui dentro de uma caixa. Acabei de ver o meu celular e parece que o nosso país bateu o recorde de mortes por covid-19 novamente. Fecho os olhos e tento não me contaminar com essa profusão de más notícias. Desvio meu pensamento e agradeço a Deus por mais esse dia, por aqui está tudo bem, um dia de cada vez. Vou assim vivendo, um dia por vez, cheia de gratidão pelo presente. Do futuro, não sei, nunca soube. Eu gostaria de esquecer que o "lá fora" existe e que meu amor, todo o dia quando chega em casa depois do trabalho, pode trazer o corona junto. Não queria me lembrar, mas não lembrar é como não viver e quero sentir cada segundo dessa minha vida, pulsando, louca para desbravar o mundo, mesmo que esse mundo agora se resuma nos limites de meu apartamento. Há muita vida aqui, muita energia, muita arte, muita força. E vou tentando viver o mais saudável possível no meio de tanto luto.
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