Diante do branco
a minha frente lembro-me do fim de “Ensaio sobre a Cegueira” do meu escritor
predileto José Saramago, quando uma das personagens olha para o céu e vê tudo
branco. Essa brancura que ele fala sempre ficou na minha cabeça e, agora, olhando
mais uma vez para essa página alva compreendo. A brancura só pode ser a do
papel. Com toda essa tecnologia, será que não dava para colocar umas opções de
página de outras cores no editor de texto? Por que só branco? Podia ser um amarelinho,
um azul. Mas branco? Já ouvi falar que tem gente que tem pavor de branco, chega
num consultório médico ou numa enfermaria e já gela de pavor. A brancura
realmente apavora. Ficar cego e ver tudo branco deve ser desnorteante. Ausência
de sensações.
Como uma fruta verde, pegajosa, não porque é bom, mas para sentir
que vivo, que estou. Alguém já se machucou e sentiu prazer de ver o próprio
sangue escorrer? Dá uma impressão de vivacidade verificar de vez em quando que
corre sangue quente nas veias. Preciso saber que estou viva. Que apesar de
estar presa diante de uma folha cândida, vivo.
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