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Sou escritora e uso do artifício de escrever para depurar pensamentos e sonhos. Sou uma leitora apaixonada, curto assistir a filmes e séries e ir ao teatro. Tenho dois livros publicados: "A ilha e a menina" e "Livremente Mara".

sábado, 22 de agosto de 2020

Solidão até nos ossos

 Vejo esses posts cheios de movimento e energia. Como se a vida fosse um espetáculo épico. A alegria parece reinar aos baldes. Por aqui, no entanto, não consigo me desprender da monotonia, da solidão. Aprendo um novo idioma para sonhar mais intensamente com as viagens que farei um dia. Meus passeios de hoje são cheios de receios, a máscara me protege e me esconde. As mãos vão empastadas de álcool em gel. Vou vivendo um dia atrás do outro, dias sempre iguais, encerrada em casa. Cozinho, arrumo a casa, trabalho. Tudo se passa dentro das quatro paredes de meu apartamento, vejo os dias clarearem e ofuscarem a sua luz, da minha janela presencio coloridos pores-de-sol. Vejo a estrela d'alva apontar, acaricio a minha gata. Raramente chove, mas isto não faz muita diferença para quem não tem quintal. Sonho com uma casa com piscina, banheira, mas vislumbro também uma vida com mais gente por perto. Como sinto falta de amigas! Eu gostaria de ter uma vida mais elétrica, embora estas sensações tenham um preço que não queira pagar mais. Tenho saudade das conversas fáceis, da alegria das fofocas contadas ao sol. Me sinto muito só e isolada de todos. Começo a ter saudades de minha mocidade, embora acredite que o que sinto falta mesmo é da presença de gente na minha vida. Parece que ultimamente as pessoas tem me decepcionado demais. Parece não haver uma aproximação sincera, leve. Acabo de ler uns conselhos aqui no face, essas coisas para o bem viver e aqui diz "não se demore onde não é bem recebido". Acho que é isso, tenho me culpado demais por ter me "distanciado" de pessoas que, na verdade, elas me quiseram longe também. Um dia, comecei a ser incisiva, insistente em me aproximar de antigas pessoas da minha vida, mas percebi que as coisas não funcionam assim. Na verdade, não sei bem como essa dança de gente funciona. Era tão boa nisto na faculdade, mas agora que sou adulta, independente emocional e financeiramente, encontro esses tipos de crespo. Gostaria de sair por aí e encontrar novos círculos, gente semelhante a mim no mundo. Mas a pandemia veio e agora fica ainda mais complicado superar essas questões. Acredito que o único meio que tenho seja mentalizar boas pessoas se aproximando de mim. Dar valor ao afeto das poucas pessoas ao meu redor. Imaginar que um dia vou me sentir menos só e com mãos menos atadas. Parece que este distanciamento social entrou nos meus ossos, dentro do meu ser. Não consigo achar natural  essas desinfecção contínua, essa falta de abraços e toques. Não consigo achar comum não querer pegar o meu sobrinho, não ficar muito perto dos meus pais. Não é natural. E já faz um tempo de estamos tocando a vida assim. Esses dias eu fiz uma autorização por escrito para um aluno entrar dentro da escola. O mundo virou do avesso e estou meio sem humor para fingir que está tudo bem. Estou sozinha e triste.